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Reflexão
Original
Anti-Capitalismo
Anti-Colonialismo
Jovens dentro e fora do jogo 
AN Original
2023-01-25
Por Marcos Antonio Batista da Silva

Ao propormos uma reflexão sobre a educação de jovens, compreendemos que quanto mais se articula o conhecimento perante o mundo globalizado, mais os estudantes se sentirão desafiados a buscar respostas e, consequentemente, serão levados a um estado de consciência crítica e transformadora diante da realidade. Essa relação dialética é cada vez mais assimilada à medida que educadores e estudantes se fazem sujeitos do seu processo de conhecimento. 

Imagem: foto do autor

O tema da juventude e educação apresenta-se na agenda das principais universidades e centros de pesquisa, procurando responder aos questionamentos e desafios que emergem de um mundo em transformação. Numa sociedade marcada pela transitoriedade, repleta de sinais confusos, propensa a mudar com rapidez e de forma imprevisível, a escola, a família, o Estado e as demais instituições devem proteger os jovens, bem como cuidar da formação ético-social e profissional, para que eles possam modificar suas biografias e das gerações futuras.

A diversidade social ocupa as escolas pela presença concreta de seus frequentadores: negros, afrodescendentes, indígenas, brancos, adultos, adolescentes, jovens e crianças de diferentes idades. Tendo em vista que o compromisso político da educação é um bem público, a igualdade constitui valor fundamental ao ensino. Nesta direção vale mencionar iniciativas com as da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas que proclamou o período entre 2015 e 2024 como a Década Internacional de Afrodescendentes – Resolução nº 68/237(ONU), que enfatiza a necessidade e urgência de reforçar a cooperação nacional, regional e internacional em relação ao pleno aproveitamento dos direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos de pessoas afrodescendentes. Assim como sua participação plena e igualitária em todos os aspectos da sociedade, em defesa de medidas práticas e concretas por meio da adoção e efetiva implementação (inter)nacional de quadros jurídicos, políticas e programas de combate ao racismo, à discriminação racial, à xenofobia e à intolerância correlata enfrentados por afrodescendentes, tendo em conta, entre outros, os jovens.

Nas sociedades contemporâneas, o racismo estrutural e as desigualdades socias afetam diretamente as trajetórias e oportunidades na vida dos jovens, sobretudo de grupos de jovens racializados. É urgente, e importante ampliarmos os conhecimentos sobre as diferentes realidades juvenis, necessidades insatisfeitas, motivações e subjetividades em curso, especialmente aquelas relacionadas com os jovens pobres, negros e de povos indígenas que mais dificuldades enfrentam para realizar escolhas alternativas e projetos autônomos, é condição necessária para a definição de políticas públicas sintonizadas com os sujeitos e as realidades que se quer transformar. Se por um lado há elementos subjetivos na hora de escolhas profissionais, por outro, há questões objetivas que dificultam esse processo (o racismo estrutural e as desigualdades sociais).

O interesse em discutir acerca de jovens, principalmente os jovens racializados, pressupõe o fato de que tais jovens são mais vulneráveis em suas trajetórias educacionais, assim como nos projetos de vida adulta (os jovens são candidatos em potencial para a educação superior). Vários estudos têm mostrado está preocupação com este segmento da população no que tange ao seu processo de inclusão ou exclusão social da adolescência e da juventude. Em geral, empobrecida na inserção na vida adulta. Isto é, no que tange as condições desfavoráveis socioeconômicas marcam a trajetória desse grupo social e interferem nas opções desses sujeitos, se não cerceando, ao menos limitando seus interesses educacionais e profissionais. As experiências escolares de jovens racializados, em sua grande parte é marcada por discriminação racial e racismo institucional no espaço escolar.

O agravamento das condições de vida de parte ampla da população jovem, em especial, os setores mais vulneráveis, incide diretamente no aumento da sensação de insegurança no presente e das incertezas quanto à vida futura (e presente até – porque estão muito mais expostos). Temos visto que sobre eles têm recaído as principais ações (não necessariamente de políticas públicas), mas muitas vezes de controle social.

No que concerne à temática da educação, propomos pensar a juventude como uma oportunidade que implica tratar os jovens como sujeitos de sua própria história e não como objeto das expectativas dos adultos. Deve ser um processo interacional em que ambos devem contribuir para o crescimento do sujeito. Essa mudança de olhar que supera a visão de jovens como objeto do problema e se firma na visão de jovem como sujeito de oportunidades nos leva a uma perspectiva importante para a ação do sistema educacional, do trabalho e da mobilização da sociedade. É importante também um olhar para outras formas de conhecimento que ocorrem nos diferentes espaços de aprendizagem que não são somente a escola (abrigos, presídios, organizações não governamentais), entre outras, com o objetivo de erradicar as violações de direitos, principalmente aos ligados aos jovens, dentre outros.

Na sociedade contemporânea e diante da desigualdade educacionais de grupos racializados, é cada vez mais necessário, que os integrantes do sistema de ensino, das séries inicias ao ensino superior dialoguem e valorizem suas histórias e culturas, bem como o poder político, dialogue cada vez mais com os movimentos sociais de base. Sem isso, poderá estar comprometida a própria qualidade da educação democrática. Visto que, ainda persistem grandes diferenciais que colocam os jovens racializados em desvantagem em suas trajetórias educacionais e inserção no mercado de trabalho.

De modo geral, a população racializadas tem várias barreiras que impedem o acesso à mobilidade educacional e social (segurança pública, sistema de saúde, transporte público de qualidade, habitação, emprego). Diante de um cenário de altas taxas de desemprego e precarização do trabalho, como a juventude tem reagido? Hoje, jovens de todas as condições sociais expressam inseguranças e angústias ao falarem das expectativas em relação ao trabalho, no presente e no futuro. O que haveria de comum entre jovens? O que os diferencia? O que têm em comum os jovens que vivem em espaços sociais economicamente valorizados da cidade e aqueles que moram em áreas periféricas? Jovens de diversos gêneros, classes sociais e idades semelhantes? Estamos diante de uma mesma geração quando os sujeitos, em alguma medida, vivenciam espaços e tempos comuns de sensibilidades, saberes, memórias e experiências históricas e culturais.

Um dos grandes desafios democráticos se relaciona com as encruzilhadas que podem ser percorridas para que a participação social se torne objetivo e meta realizável numa sociedade em que tantos jovens se encontram em processo de exclusão econômica e marginalização social. Há indicações de que uma parcela importante dos jovens nas sociedades contemporâneas está, atualmente, experimentando uma série de fragilidades e vulnerabilidades.

Compreendemos que a reconstrução desse panorama possa ocorrer por intermédio da educação, que é percebida como uma esfera fundamental pela possibilidade de promover mudanças nas representações culturais, assim como da inclusão de narrativas de pessoas e/ou grupos historicamente excluídas da produção do conhecimento. Dentro dessa forma de perceber o jovem, é importante situar elementos norteadores para o enfrentamento dos impasses próprios do mundo globalizado, como as novas dinâmicas do trabalho, a educação, a família, a própria juventude e a luta antirracista.


Marcos Antonio Batista da Silva - Doutor em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(PUC-SP).  Investigador em pós-doutoramento no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra (Projeto 725402 - POLITICS - ERC-2016-COG).