Capicua 01
2014-08-05

O concerto aconteceu no âmbito do colóquio internacional "Epistemologias do Sul: Aprendizagens globais Sul-Sul, Sul-Norte e Norte-Sul", organizado pelo projeto ALICE, e foi integrado no programa das Festas da Cidade de Coimbra, organizado pela Câmara Municipal de Coimbra. 13 de julho de 2014. "Há palavras que nasceram para a porrada" é um concerto que resulta de uma parceria entre um conjunto de músicos e o projeto "ALICE -- Espelhos Estranhos, Lições Imprevistas" (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra). Nasceu da vontade de combinar arte e ciência, cruzando diferentes razões/emoções, e partilhar histórias marcadas pelas dinâmicas de exclusão e exploração de séculos de colonialismo, patriarcado, desigualdades sociais e segregação urbana. As narrativas são construídas a partir de motes e tópicos do projeto ALICE, adensados pela escrita e interpretação de um conjunto de rappers: Capicua (Ana Matos Fernandes), Chullage (Nuno Santos), Hezbó MC (Jakilson Pereira) e Lbc Soldjah (Flávio Almada). O projeto ALICE assenta na ideia de que todos os saberes são incompletos, incluindo o saber científico. Compreender o mundo em que vivemos e sobretudo transformá-lo num mundo melhor exige que os diferentes saberes se reconheçam e se articulem. A ecologia de saberes que daqui decorre dá sentido, por exemplo, à aproximação ou fusão entre saber académico e saber artístico. As ciências sociais são tão valiosas quanto limitadas. Deixam de fora as reflexões e as propostas que não cabem na sua lógica narrativa. O diálogo entre as narrativas das ciências sociais e as do RAP constitui, assim um exercício de ecologia de saberes que, potencialmente, pelo menos, nos pode ajudar a compreender melhor o mundo e ser mais eficazes nas lutas contra a exploração, a discriminação e a opressão que o caracterizam Foi a partir destas reflexões e dos desafios que elas suscitam que se estabeleceu o diálogo entre o projeto ALICE e o conjunto de rappers mencionado. A partir daí coube aos músicos o processo de criação que resultou num conjunto de composições nascidas desse exercício: "A Mulher do Cacilheiro" (Capicua); "Líquida" (Capicua); "cacilheiro/navio negreiro" (Chullage); Nha Povo (Hezbó MC); Filhos do Vento (Hezbó MC); "Manifesto do S.U.L (Só a União libertará) no Norte" (Lbc Soldjah); "Odisseia de desemprego" (Lbc Soldjah). O Concerto é feito dessas e outras músicas, bem como de frases selecionadas do livro RAP Global escrito por Boaventura de Sousa Santos enquanto Queni N. S. L. Oeste (Rio de Janeiro, Aeroplano, 2010).