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Mulheres indígenas se preparam para primeira marcha nacional
Marco Zero Conteúdo
2019-08-09
Por Débora Britto

“Território: nosso corpo, nosso espírito” é o mote da articulação histórica que pretende reunir 2 mil mulheres de povos indígenas de todo o Brasil para a primeira Marcha de Mulheres Indígenas. A manifestação tomará as ruas de Brasília se juntando à Marcha das Margaridas, no dia 13 de agosto, e dá seguimento a um calendário intenso de luta dos indígenas brasileiros.

Ilustração: Cristiano Siqueira @crisvector 

A marcha marcará o encerramento do Fórum Nacional de Mulheres Indígenas, que tem início em 9 de agosto, quando é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas. O evento vai até o dia 12. A ideia é fortalecer as mulheres do campo e das florestas mutuamente “numa grande manifestação nacional em prol dos direitos e do protagonismo da mulher, a partir de uma nova visão de desenvolvimento sustentável e justiça social”, diz a convocatória.

A cacique Dorinha Pankará, liderança pernambucana, vê a necessidade de as mulheres estarem na frente do movimento indígena em especial porque são as mulheres que sentem em maior intensidade a perda de direitos. Para ela, tanto as pautas específicas dos indígenas como a questão da Reforma da Previdência colocam em maior vulnerabilidade as mulheres.

“A gente sempre lutou em defesa dos nossos direitos e com esse desgoverno a gente se sentiu muito ameaçado, tanto fisicamente como nos direitos. No Acampamento Terra Livre a gente chamou as mulheres indígenas e discutimos a violência contra a mulher, a questão territorial e pensamos em somar junto às lideranças masculinas também”, explica a cacique.

Pautas urgentes
Em abril deste ano, o 15º Acampamento Terra Livre (ATL), maior mobilização nacional indígena, reuniu quase 5 mil pessoas em Brasília para uma agenda tensa com o Governo Federal. Para a cacique Dorinha, algumas pautas foram vencidas naquele momento. Uma das vitórias foi a permanência da responsabilidade de demarcação de terras indígenas com a Funai vinculada ao Ministério da Justiça e não ao Ministério da Agricultura, como pretendia o governo.

No entanto, entre as pautas urgentes outras continuam na linha de fogo do governo Bolsonaro. Uma delas é a proposta de municipalização da saúde indígena que, para o movimento, é um retrocesso em direitos já conquistados. Essa mudança atingiria, principalmente, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) que garante atendimento diferenciado e de acordo com a cultura de cuidados dos povos indígenas.

Arte: Ribs @o.ribs

Indígenas e margaridas

O tema da mobilização das mulheres reforça a relação dos indígenas com a terra como garantia da vida e foi escolhido no encontro de abril, marcando também o amadurecimento das vozes e reivindicações específicas das indígenas em meio aos ataques aos povos originários.

Para as mulheres, as principais ameaças aos povos indígenas, hoje, vêm do agronegócio, das mudanças climáticas, do machismo e do racismo.

As indígenas vão unir forças com as margaridas, que reúnem não apenas mulheres agricultoras, mas também quilombolas, ribeirinhas e indígenas. “O retrocesso não é só para os povos indígenas, mas outras classes sociais menos favorecidas. E a gente entende que somando forças com os outros movimentos a gente será mais forte. Tanto o movimento das mulheres indígenas como as Margaridas têm como pauta principal a continuidade da demarcação territorial, a educação, a saúde e a previdência”, destaca a cacique.

Além da marcha unificada, as indígenas e as margaridas também vão dividir um espaço de construção de pautas dentro da programação do Fórum Nacional das Mulheres Indígenas, que vai discutir questões que foram pontuadas na plenária das mulheres no ATL 2019.

Pernambucanas fazem vakinha online 

As mulheres pernambucanas dos 13 povos indígenas no estado estão se organizando para participar do evento, mas estão enfrentando dificuldades, principalmente, para o deslocamento até Brasília. “Estamos correndo atrás de um ônibus com muita dificuldade e estamos tentando unir forças para levar uma representatividade de mulheres indígenas de Pernambuco”, conta a cacique Dorinha Pankará, representante do povo que vive na Serra do Arapuá, região semiárida do estado.

Para conseguir levar o maior número de mulheres a Brasília, as indígenas estão realizando uma vakinha online para custear o aluguel de ônibus. De acordo com Elisa Urbano Pankararu, a ideia é levar ao menos um ônibus. O desafio é grande. A campanha vai até o dia 31 de julho e toda doação será utilizada para apoiar a ida das indígenas pernambucanas. Até a publicação desta reportagem havia sido arrecadado menos de 2% da meta de R$ 40 mil. “Mesmo assim se não der certo, algumas de nós iremos a própria custa. Pernambuco será representado”, garante.

Uma vakinha nacional também está recebendo doações para a organização do evento em Brasília e segue até 20 de agosto


Débora Britto trabalhou como jornalista no Centro de Cultura Luiz Freire - organização não governamental de defesa dos direitos humanos - é integrante do Terral Coletivo de Comunicação Popular, grupo que atua na defesa do direito à comunicação como fundamento para a garantia de outros direitos. Também tem passagem como jornalista pelo Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, entidade voltada para ações de fortalecimento da agricultura familiar agroecológica.



Conteúdo Original por Marco Zero Conteúdo