O racismo no futebol nas sociedades contemporâneas tem se manifestado por práticas racistas que inclui todos os atos, verbais, não verbais e para verbais (xingamentos, insultos racistas, ou algum tipo de sinal e ou/gestos) que resultam em consequências desfavoráveis para grupos racializado, principalmente negros (jogadores, comissão técnicas, torcedores, etc.) nos estádios de futebol, quadra desportivas, entre outros recintos desportivos. Tais práticas racistas também têm se manifestadas por meio da internet e redes sociais, dirigidas à praticantes diretos ou indiretos das partidas de futebol. Em uma sociedade marcada pelo racismo, é preciso compreender como as tecnologias incorporam as lógicas de discriminação. O preconceito, os atos discriminatórios com relação à raça precisam ser combatidos na internet. O combate ao racismo tem ganhado força na internet e nas redes sociais com denúncias dos casos de racismo, debates, informações e organizações de movimentos para discutir o racismo. Um exemplo disto é o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) que ganhou grande visibilidade através da internet e redes sociais, onde ativistas têm combatido o racismo nas sociedades contemporâneas.
O caso do jogador de futebol Vinícius Júnior, brasileiro, e atuando no futebol espanhol, ganhou notoriedade na mídia e (re)acendeu um alerta em praticamente todo o mundo contra manifestações racistas contra atletas nos campos de futebol. Isto não exclui outros casos passados e presentes. De Lukaku a Vinícius. Os casos de racismo no futebol europeu e o que foi feito, traz um recorte de episódios de racismo no futebol com notícias de diversos países. Por exemplo, a Inglaterra mostra casos de racismo envolvendo treinadores, torcedores (além do estádio/redes sociais), que têm ampliado a (re)produção do racismo no futebol.
Um exemplo disto, foi o caso mídiatico da final do Campeonato Europeu de Futebol de 2020 (Euro 2020), quando ingleses e italianos disputavam o título. O jogo só ficou decidido nas penalidades e a seleção inglesa perdeu. Porém , alguns torcedores por meio da internet/redes sociais direcionaram ataques racistas nas redes sociais contra três jogadores ingleses que perderam seus pênaltis. Neste sentido, as investigações da polícia inglesa sobre os atos de racismo contra os três jogadores foram relatadas pela agência de notícias Reuters. É importante que autoridades, sociedade civil e organismos futebolísticos nas sociedades contemporâneas possam coibir esses atos racistas, por meios legais, (aplicação de legislações vigentes) e promovendo ações antirracistas.
Outro caso recente (nov.2023) envolvendo futebol, redes sociais e racismo, mostra que o jogador Rodrygo, brasileiro é vítima de racismo após um desentendimento com Messi na partida Brasil x Argentina pelas eliminatórias da copa do mundo de 2026 no estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil . “Os racistas estão sempre de plantão. Minhas redes sociais foram invadidas com ofensas e todo tipo de absurdo. Está aí para todo mundo ver”. escreveu Rodrygo.
Na França, na final da copa do mundo de futebol de 2022, jogadores da seleção francesa foram alvo de insultos racistas após a final perdida para a Argentina. Na Itália, por exemplo, na partida entre a Juventus e o Inter de Milão, Romelu Lukaku também foi alvo de insultos racistas. O caso do atleta belga se tornou uma bandeira no futebol italiano contra o racismo no esporte, com direito a 171 torcedores da Juventus, que foram identificados pela polícia de Turim como participantes da manifestação discriminatória, sendo banidos dos estádios e multados pela Justiça italiana. Nos Países Baixos, iniciaram ações, como por exemplo, a utilização de tecnologia para combater casos de violência e racismo. Foram instalados equipamentos (câmaras e gravadores) de som nos estádios para que seja possível identificar os adeptos responsáveis por cânticos e insultos racistas.
Infelizmente entre uma partida e outra de futebol avolumam-se episódios de racismo no futebol, no mês de novembro de 2023, pudemos observar pela mídia que Futebolista português Chermiti denuncia racismo no desafio dos sub-20 com Itália; Argentina foi acusada de racismo contra funcionária do estádio do Maracanã na cidade do Rio de Janeiro. Esses episódios racistas, mesmo havendo ações antirracistas, punições, sanções, multas aos envolvidos ainda tende a acontecer.
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O antirracismo é, primeiramente, uma luta coletiva de libertação que busca combater o racismo e desmantelar as estruturas de opressão racial e desumanização. Para Nilma Gomes, que tem vasta bibliografia sobre o tema do (anti)racismo “O antirracismo é uma reivindicação que sempre fez parte da luta do movimento negro e é o objetivo de uma sociedade cada vez mais democrática, no sentido de que nela tem que caber todas as pessoas e ter espaço para todas as lutas por emancipação”. Cabe as pessoas, as instituições passarem em revista todos os espaços sociais, culturais, desportivos, políticos, dentre outros, questionando qual a relação de cada um deles com o racismo, e em que medida contribuem para a superação do racismo ou para sua (re)produção.
Quando o foco é o futebol, Marco Túlio de Souza (portal Mais Futebol), chama a atenção para pontos importantes no que tange racismo no futebol: as consequências psicológicas, sociais e culturais que envolvem os jogadores negros; carreira e envolvimento com o racismo; efeitos do racismo sob os jogadores, clubes, torcedores, organizações desportivas; ações de combate ao racismo. Embora diversas ações antirracistas tenham sido implementadas no campo desportivo, ainda há muito a se fazer, ainda há diversos episódios de racismo que continuam a acontecer, e os jogadores negros, homens e mulheres, jovens ou veteranos, continuam sofrendo violência racista. É importante o desenvolvimento de ações para coibir os atos racistas; a criação de estratégias que não apenas apliquem penalidades, mas sim a promoção de ações antirracistas que promovam uma cultura de igualdade e diversidade em todos os níveis do futebol.
Nesta direção, observamos iniciativas de ações antirracistas como por exemplo, a realização de oficinas com jovens de categorias de base de futebol, com diferentes categorias, como é o caso do Corinthians, no futebol brasileiro. É preciso ser antirracista: Corinthians promove oficinas com jovens das categorias de base. O Santos FC, através do Comitê de Equidade, Diversidade e Inclusão, tem realizado uma série de palestras em homenagem ao Dia Nacional de Combate ao Racismo, voltada para os atletas e comissões técnicas das categorias de base e funcionários do Clube. Base do Santos FC participa do evento "Racismo no Futebol" - #MuitoAlémdoFutebol - YouTube. Outra iniciativa de combate ao racismo no futebol brasileiro tem sido discutida pelo Grupo de Trabalho de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol. Este debate é importante, visto que casos de preconceito contra atletas cresceram 40% nos estádios brasileiros em 2022.
O combate ao racismo no futebol é um tema cada vez mais recorrente, e é fundamental orientar novas gerações e adotar medidas práticas e concretas por meio da adoção e efetiva implementação de políticas de quadros jurídicos, políticas e programas de combate ao racismo.
Qual é o posicionamento de seu clube de futebol frente ao racismo?
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Marcos Antonio Batista da Silva - Doutorado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Pós-doutorado no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra. (Projeto 725402 - POLITICS - ERC-2017-2023).