Desde o início da guerra contra as drogas nos anos 80, os níveis de violência aumentaram sucessivamente no país, tornando o Brasil hoje o líder em assassinatos perpetrados pela polícia. As taxas assustadoras de violência policial no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, por vezes, ultrapassam os homicídios registrados no contexto de países em situação de guerra declarada, como a Síria.
Embora a militarização das políticas de segurança brasileiras no contexto da chamada “guerra às drogas” tenha ganhado considerável atenção nos últimos anos, seu impacto nas mulheres, e particularmente nas mulheres estruturalmente marginalizadas, não tem sido uma questão central no debate público e acadêmico.
Essa coluna visa preencher essa lacuna, apresentando uma série de artigos que analisam questões chaves da discussão de segurança pública a partir de uma perspectiva feminista, priorizando as causas e efeitos de gênero dentro do debate acerca da “guerra às drogas” e temáticas a ela relacionadas. Estas incluem, por exemplo, a violência policial, o comércio internacional de armas, a difusão e o desvio de armas de fogo, o sistema prisional, a dinâmica dos grupos do crime organizado e a violência política - temas que são de grande relevância para a sociedade brasileira e principalmente a população feminina de baixa renda, periférica e negra.
O título da coluna é inspirado no livro Homens em Tempos Sombrios de Hannah Arendt (1968), que, por sua vez, é uma homenagem e uma resposta ao poema Para a Posterioridade de Bertolt Brecht (1949), refletindo sobre os “tempos sombrios” do nacional-socialismo e as experiências tenebrosas da resistência e do exílio. Arendt, que retrata Brecht em um capítulo de seu livro, argumenta que é precisamente a escuridão do momento histórico que traz à tona a luz e a força inata de alguns dos indivíduos mais notáveis - homens e mulheres que não se esquivaram das árduas tarefas que a história tinha preparado para eles.
Como afirma Arendt: “Mesmo no tempo mais sombrio temos o direito de esperar alguma iluminação, e que tal iluminação pode bem provir, menos das teorias e conceitos, e mais da luz incerta, bruxuleante e frequentemente fraca que alguns homens e mulheres, nas suas vidas e obras, farão brilhar em quase todas as circunstâncias e irradirão pelo tempo que lhes foi dado na Terra.”
Kristina Hinz é pesquisadora no Laboratório de Análise da Violência (LAV), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e doutoranda em Ciência Política na Universidade Livre de Berlim.
Conteúdo Original por Open Democracy