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Reflexão
Original
Anti-Capitalismo
Anti-Colonialismo
Juventude, Ritmo e Ausências
AN Original
2020-01-10
Por Marcos Antonio Batista da Silva

Não existe uma maneira única de ser jovem. Cada um constrói, à sua maneira, um modo de ser, de agir, de confabular e de fazer sua história, dentro de uma circunstância dada. As contínuas transformações do mercado de trabalho, a desigualdade social, o racismo estrutural, repercutem na vida e na formação do jovem. “O racismo e o preconceito devem ser combatidos pela humanidade, por seus intelectuais, militantes, movimentos sociais, sindicatos, instituições educacionais e públicas, meios de comunicação e demais agentes públicos”.

Essa realidade provoca o poder público, a escola, a família e as sociedades contemporâneas a discutirem a realidade do emprego, da capacitação profissional, da segurança, do combate a violência para com os jovens. Há necessidade de políticas públicas voltadas à população juvenil. Compreendem não apenas a formulação e a implementação de políticas de inserção, como também de programas de lazer e cultura – há ausência de espaços culturais para jovens de todas as idades nas periferias, capacitação profissional e oferta de oportunidades para o exercício da cidadania e um projeto de vida adulta.

Foto do autor.

Numa sociedade marcada pela transitoriedade, repleta de sinais confusos, propensa a mudar com rapidez e de forma imprevisível, a escola, a família, o Estado, e as demais instituições devem proteger os jovens, bem como, cuidar da formação ético-social e profissional, para que estes possam modificar suas biografias e das gerações futuras. É importante que as necessidades da infância e juventude sejam contempladas com politicas publicas, de maneira especifica e positiva focada na promoção do desenvolvimento integral da pessoa. Que o apoio para a infância e juventude seja complementado por investimentos em creche, educação, cuidados de saúde, proteção, cultura e lazer, segurança, em especial para jovens negros e indígenas. Que dados e informações sejam coletados para identificar os grupos mais vulneráveis de jovens em todas as regiões e as iniquidades que os afetam, para direcionar mais investimentos com vistas à garantia de direitos e oportunidades. Que os jovens sejam ouvidos nos processos de tomada de decisão como condição essencial para se alcançar a equidade.

Que as escolas aproveitem a etapa de aprendizado dos estudantes e contribuam para que eles adquiram competências, habilidades e conhecimentos necessários para desenvolver todo o seu potencial, por assim dizer, promover uma educação de qualidade. Que um esforço conjunto, contando com projetos integrados seja feito para acabar com a violência que atinge em particular os jovens negros, indígenas, nas sociedades contemporâneas. “Cada adolescente assassinado é um ataque à humanidade, especialmente à sociedade brasileira”. 

Diante de um cenário de altas taxas de desemprego, e de desestruturação e precarização do trabalho, como a juventude tem reagido? Hoje, jovens de todas as condições sociais expressam inseguranças e angústias ao falar das expectativas em relação ao trabalho, no presente e no futuro. Por isso, é urgente a criação de programas específicos para essa camada da população, tais como programa de inserção no mercado de trabalho que contemplem jovens sem experiencia profissional. O que haveria de comum entre jovens? O que os diferencia? O que têm em comum jovens que vivem em espaços sociais economicamente valorizados da cidade e jovens que moram nas favelas e periferias? Jovens racializados (negros, indígenas), de diversos gêneros, classes sociais e idades semelhantes?

Estamos diante de uma mesma geração quando os sujeitos, em alguma medida, vivenciam espaços-tempos comuns de sensibilidades, saberes, memórias, experiências históricas e culturais. Diante do agravamento das condições de vida de parte ampla da população jovem brasileira – em especial os setores mais vulneráveis: jovens indígenas, jovens negros e moradores de periferias e favelas – incide diretamente no aumento da sensação de insegurança no presente e das incertezas quanto à vida futura (e presente até – porque estão muito mais expostos). Temos visto que sobre eles tenham recaído as principais ações (não necessariamente de políticas públicas), de controle social tutelar e repressivo e violento.

Nesse processo, muitos jovens vêm pagando o preço de políticas econômicas que os excluem das possibilidades de participar de maneira produtiva e cidadã à sociedade. Um dos grandes desafios democráticos se relaciona com as encruzilhadas que podem ser percorridas para que a participação social se torne objetivo e meta realizável numa sociedade em que tantos jovens se encontram em processo de exclusão econômica e marginalização social.

A ampliação de conhecimentos sobre as diferentes realidades juvenis, necessidades insatisfeitas, motivações e subjetividades em curso, especialmente àquelas relacionadas com os jovens pobres, negros e indígenas que mais dificuldades enfrentam para realizar escolhas alternativas e projetos autônomos, é condição necessária para a definição de políticas públicas sintonizadas com os sujeitos e realidades que se quer transformar.[1]


  Marcos Silva, PhD in Social Psychology, PUC-SP, Brazil. Postdoctoral researcher at the Center for Social Studies (CES), University of Coimbra (UC), Portugal and project member (725402 — POLITICS — ERC-2016-COG).


[1] http://www.unifieo.br/pdfs/marketing/dissertacoes_psico_2011/MARCOS_BATISTA_2011.pdf.