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“Quando falamos de budismo, falamos de engajamento social” - Monja Coen
AN Original
2018-10-15
Por Célia Trindade Amorim, Isabel Felix, Rita Kacia Oliveira

Um dia após as eleições no Brasil, no último dia 7 de outubro, Monja Coen, com uma serenidade e sorriso largo, participou da sessão pública intitulada “Como o Zen Budismo pode ajudar a lidar com a depressão?”, no auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Portugal.

Coen elevou a moral de muitas/os brasileiras/os que foram prestigiá-la, principalmente após o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais no país, que apontou um cenário nada positivo para o fortalecimento da democracia brasileira.

A monja falou para um auditório lotado com a presença de mais de 250 pessoas da comunidade acadêmica e fora dela, a respeito de valores éticos como princípios importantes para a humanidade se fortalecer da onda de extrema-direita que assola a política no mundo. “Qual o sentido da vida?”, foi um dos questionamentos de Coen, ao destacar a diversidade do mundo como atributo do bem viver.

Para fazer o público interagir no início da sessão e, ao mesmo tempo, relaxar, Coeh convidou todas e todos para uma pequena prática de Zazen – meditação sentada - uma das práticas que ela acredita e aconselha para a prevenção e auxílio na cura da depressão, mas alertou que não aconselha o abandono do tratamento médico.  A  Zazen é também facilitadora do auto conhecimento, atitude que para ela é fundamental, pois vai além do individualismo, pois desperta à compaixão conosco mesmas, com todos os seres.

Monja Coen não se deteve ao tema da depressão em si, dos seus aspectos físico e psicológicos, mas a partir de reflexões dos ensinamentos e preceitos budistas, abordou questões da subjetividade, interrelacionalidade e sobre a importância do conhecimento da mente para saber usá-la em benefício da cura e do bem-viver. Sem deixar de levar em conta os valores e a ética.

Defensora e praticante do budismo engajado, ela argumentou que precisamos conversar uns com os outros, mas sem perder “tempo em conversas fúteis, essa é uma das orientações do Buda”. Ela lembrou de sua conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na cela da Polícia Federal, em Curitiba. O presidente Lula, preso desde o último dia 7 de abril, de forma injustiça, em um processo cheio de vícios, recebe as segundas-feiras uma liderança religiosa na cela da PF, e diante desta oportunidade, perguntaram para a monja se ela queria ir visitá-lo. Coen respondeu: “Com toda alegria. Nunca falei com ele pessoalmente. E tive uma hora inteirinha só para mim. Muitos me invejaram”, disse Coen, tirando largos sorrisos do público.

Monja recuperou aos presentes uma das mensagens do presidente Lula: “Ele disse que não tinha raiva de ninguém, que apenas entendia esse momento histórico”. Coen lançou um questionamento para os participantes da sessão pública: “Será que entendemos esse momento histórico que estamos atravessando na humanidade? Pode não ser o que nós queremos, mas tem um significado”. Ela alertou que devemos parar de estar envolvidos em pequenos grupos, pequenos poderes, há necessidade de unirmos para fazermos grandes reformas sociais. “Quando falamos de budismo, falamos de engajamento social”, disse a monja.

Coen é uma monja Zen Budista brasileira, que realizou seus estudos monásticos no Zen Center of Los Angeles e no Japão, no Convento Zen Budista de Nagoia, Aichi Senmon Nisodo e Tokubetsu Nisodo. Nos anos 1990, tornou-se a primeira pessoa sem ascendência japonesa e a primeira mulher a ser presidente da Federação das Seitas Budistas do Brasil. Ela é a Primaz Fundadora da Comunidade Zen Budista, Zendo Brasil, criada em 2001, com sede no bairro do Pacaembu em São Paulo.

Na sessão pública, utilizou das narrativas de histórias da tradição budista como as do próprio Buda, fez analogias com temas socias, políticos e religiosos de nossa atualidade. Questionou, fez análise critica, perguntas de suspeita como: “se o mundo é redondo, por que no modelo eurocêntrico do desenho do mapa do mundo a América do Sul está em baixo?”  Em vários momentos ela coloriu sua fala com uma boa dose de humor.

O evento com a presença da monja foi realizado no âmbito das atividades do Policredo – observatório da Religião no espaço público, e fez parte das comemorações dos 40 anos do Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra.

Logo após o evento, monja Coen participou de uma sessão de autógrafos do livro “O sofrimento é opcional – Como o budismo Zen pode ajudar a vencer a depressão”, e concedeu entrevista para o AliceNews.


 

Isabel Felix é Investigadora em Pós-doutoramento no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra. Professora em Educação no Curso de Pedagogia, Faculdade e Caieiras. Brasil - São Paulo.
   
Célia Trindade Amorim é Investigadora em Pós-doutoramento no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, professora da Universidade Federal do Pará (UFPa), Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Brasil – Belém do Pará