Recebi um convite em setembro de 2000, escrever sobre Jovita Feitosa, em meados de “fase de elaboração/escrita de tese”. Impossível seria recusá-lo. Morei por quase vinte anos na Avenida Jovita Feitosa, em Fortaleza – Ceará. Tenho amor ao local, aos moradores, às árvores que embelezam a avenida. Na rua há um tanto de mim, e em mim a avenida inteira de afeição.
E quem era Jovita? Os transeuntes mais curiosos liam por vezes uma pequena placa que dizia sinteticamente da personagem. Percorri, praticamente, todas as bibliotecas de Fortaleza, conversei com pessoas, historiadores, familiares, escritores do Ceará e do Piauí. Entrei em contato com pessoas em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro para coletar dados. O primeiro trabalho foi de buscar pistas, “rastros” deixados em notícias de jornais, e em algumas linhas escritas.
A vida e os feitos das mulheres parecem sofrer um processo de invisibilidade histórica. Foi essa minha desconfiança a cada procura pela vida da heroína. Assis Brasil (2000) trouxe-me esperanças, mas como é tido por muitos como um “historiador ficcionista”, resolvi acrescentar dados que coletei no “Jornal do Comércio” da época (1848-1870). Reli livros sobre as relações do Brasil com a Inglaterra, a Tríplice Aliança, como se deu a Guerra do Paraguai, o que, de fato, significou essa guerra. Jovita viveu num contexto que eu desejei compreender mais e mais. Fui mergulhando ali….
Jovita e sua participação na Guerra do Paraguai. A mulher que subverteu a ordem pelo desejo de guerrear, algo que era impróprio para as mulheres. Muita coisa era proibida às mulheres nesse período: ler, escrever, ser Primeiro Sargento...Jovita fez tudo isso, e fez mais. Há registros históricos, fotos, biografia, de uma mulher, uma cearense a frente do seu tempo. Escrevi Jovita Feitosa, com zelo, carinho, estudo, pesquisa, e muita seriedade. É um dos livros da Coleção Terra Bárbara (MATOS, 2001e; MATOS, 2017). E que agora, 2018, está disponível no site edr eBooks.
Fui convidada, várias vezes, para falar sobre Jovita. Em 2017 tive uma grata surpresa ao saber que Jovita Feitosa foi escolhida para a Coleção Premium. O que foi justificado pelos editores das Edições Demócrito Rocha da seguinte forma: “Queríamos personagens que ainda estivessem em plena atividade (…) reúne alguns dos melhores títulos da coleção anterior e cinco novos” (MATOS, 2017, p.7).
Foi realizado também, no ano de 2017, um documentário, numa série chamada Perfil, Jovita Feitosa por Kelma Matos, pelo Núcleo de Documentário da TV Assembleia Ceará (canal 31.1 e 61.3 digital) “em que cearenses falam sobre vida e obras de outros cearenses”, e pode ser conferida no seguinte endereço eletrônico: https://www.youtube.com/watch?v=HyCVdFcnJ9A. Convido para que vejam, e conheçam mais sobre nossa heroína.
Kelma Socorro Lopes de Matos: Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (1988), mestrado em Educação pela Universidade Federal do Ceará (1995), doutorado em Educação pela Universidade Federal do Ceará (2001), Pós Doutorado em Educação pela Universidade Federal da Bahia – UFBA (2011). Atualmente é Professora Titular do Departamento de Fundamentos da Educação – Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará e Investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Cultura de Paz, Valores Humanos, Educação e Espiritualidade, Juventudes, Escola, Educação Ambiental.